segunda-feira, novembro 18, 2002
DE VOLTA À REALIDADE Como anteccipado - e muito - pelo post anterior, vou tirar meu tempinho hj pra tratar um pouco sobre esse negócio de realidade. (como se vc já não tivesse o bastante dela por dia ;-))
Se vc foi um leitor esperto, seguiu o link q indiquei no dia 11, e prestou atenção no que escreveu o encarecido Glenn Perry, talvez lembre-se do trecho em que coloca o ponto de vista da psicologia - e da astrologia - humanitária como uma visão da realidade pela consciência. Em outras palavras, dizendo que ele e mais um bando de gente não tomam a realidade como algo independente da percepção dela, que a consciência é o tijolo primordial do universo, e não o átomo - ou o próton, o elétron, sabe-deus-o-quê.
O que faz lá um bocado de sentido, se quer minha opinião, e isso mesmo adotanto uma postura científica. Ora, mesmo supondo que a primeira coisa no universo a adquirir consciência própria tenha sido também a que desenvolveu um cérebro (pq na verdade mesmo se o vácuo tivesse consciência ninguém ficaria sabendo), bom, antes dela ter consicência de que era algo diferente do resto universo, este mesmo não passava de um bando de prótons, nêutrons e elétrons vagando por aí. E se tudo é feito dessas partículas, variando apenas a quantidade, então enquanto não tiver ninguém pra diferenciar com sua visão, e dizer: "um próton flutuando sozinho é hidrogênio, se tiver mais um com ele então é hélio", ou mesmo pra perceber que tem dois prótons andando mais "juntos"... bom, o universo vai ser todo a mesmíssima merda. Até vir o primeiro bicho, árvore, ameba, sei lá, olhar prum bando de moléculas/átomos/whatever e dizer/pensar: "isto é água", mesmo que ainda não tivesse um nome pra água, não fazia a menor diferença o que ela era.
A diferença básica entre os que acreditam no universo nascido da matéria e no universo nascido da consciência é que cada um diz que uma coisa veio primeiro. Os materialistas (pelamordedeus, ignore as eventuais conotações chulas dessa palavra) dizem que a primeira coisa que nasceu com o universo foi a matéria, a realidade física, nuvens cósmicas, estrelas e essa parafernália astronômica toda, se bobear até antes dele; depois alguém tomou consciência disso. Os segundos, que a consciência veio antes, que assim que o universo percebeu que estava lá, nasceu. Logicamente que pra acreditar nisso, vc tbm precisa acreditar que o Universo é ou foi auto-consciente algum "dia"; mas combinado com alguns outros preceitos manjados - ex. o de que somos fragmentos do todo que havia antes da criação - simplifica muito sua vida. Esta última ainda tem a vantagem de facilitar a compreeensão de algunas dilemas da humanidade, como a morte (a consciência se altera, mas permanece, esteve lá desde sempre e vai ficar até o fim: vc vira pó mas a consciência ainda existe), o isolamento e a solidão; pergunte a Joseph Campbell.
Claro, se vc quer a minha opinião, que vale muito-pouco-quase-nada, isso não passa da velha história do ovo e da galinha. Se a consciência nasceu primeiro, o que foi que ela sentiu, se não havia nada de que se conscientizar? E como poderia existir algo se a noção de espaço só vem com a consciência, se quem inventou o espaço e o tempo foram os seres sentientes? E essa história já faz um tempo que eu resolvo assim: o ovo é a galinha. Consciência é matéria, matéria é consciência, tudo a mesma merda - uma solução talvez excessivamente taoísta, mas q tem satisfeito minhas dúvidas.
Agora, o pq dessa encheção de linguiça toda é pra mostrar o qto deveria ser importante e evidente um aspecto da realidade que foi quase que esmagado pelo racionalismo objetivo, mas sempre dá um jeito de escapar aki e ali: consciência é realidade, tanto ou mais que matéria. Hj em dia a maior parte da população vai olhar pra muitas das questões postas acima, rir, e dizer coisas como: "seu idiota, é lógico que a matéria veio primeiro, vc ainda duvida? Não foi à escola? A realidade é algo que percebemos, mas vai estar lá independente de percepção! A percepção apenas não altera a realidade" bláblábláblá. Já perdi meu tempo anteriormente indagando esse tipo de atitude, muitas vezes advindo de quem nem sequer vislumbrou outras possibilidades, e eles sempre são prova o suficiente de meus próprios argumentos. Mas permitam-me exemplificar.
Peguemos, por exemplo, o Big Bang. Um físico diria, mais ou menos: Big Bang é o nome dado à explosão inicial que deflagrou o início da criação, partindo do que deveria ser um ponto concentradíssimo de unidade, para o universo como conhecemos, colocando tudo em movimento.
Eu digo: Áries.
A seguir, o universo dividiu-se em massas gasosas, algumas das quais se solidificaram e formaram planetas. Uma dessas massas era a mãe-Terra, o solo no qual o reesto dos nossos estudos se concentrará.
Touro.
Os átomos e moléculas presentes no planeta Terra, muito embora não passassem de exemplares diversos da mesmíssima coisa, pela primeira vez combinaram-se, formando moléculas e átomos novos, resfriando o mar de lava que era o planeta, formando a atmosfera, desmanchando seu antigo rosto e alterando-o para sempre. A primeira lufada de vento soprou pela Terra.
Gêmeos.
A atmosfera gerou nuvens, que por sua vez desaguaram, transformando a antiga Terra, aos poucos, no planeta água. O planeta chorou pela primeira vez, e dentro da água, as moléculas formaram aglomerados cada vez mais organizados, cada vez mais em castas.
Câncer.
Um desses aglomerados gerou a primeira forma de vida, o primeiro ser pulsante, independente; a primeira coisa no universo a ter o seu próprio brilho, como se olhasse para o mundo e dissesse: eu sou eu! É isso que sou, é isso que vou continuar sendo! EU!
Leão.
Para resistir às intempéries e ameaças da biosfera, as pequenas e frágeis formas de vida formulam um forte e flexível esquema, que lhes permite adaptar-se ao ambiente, mudando pouco a pouco para formas cada vez mais complexas e com maior chance de sobreviver. A evolução chega à Terra.
Virgem.
As inúmeras formas de vida tomam consciência da existência de seus semelhantes. Pela primeira vez, percebem o outro. Pela primeira vez, percebem o mundo, como algo diferente de si mesmos - e precisam aprender a viver em harmonia entre si.
Libra.
Agora, a presença cada vez maior do ameaçador oxigênio é um perigo à vida. Para manterem-se, os seres devem agora abraçar o que mais temem: consumindo o oxigênio que, a longo prazo, irá matá-los. Pois antes disso cada organismo apenas se duplicava, não havendo morte. Agora, porém, morrer era o único jeito de manter a vida no planeta; para isso sendo necessário a criação de outra forma de reprodução, que gerasse vida nova, não afetada pela degradação da anterior. E assim foi, que os dois primeiros seres a reproduzirem-se através do sexo, foram também os dois primeiros a morrer.
Escorpião.
Cientes agora tanto de sua individualidade quanto de sua finitude, os seres vivos espalham-se tanto pelas profundezas dos oceanos quanto pela superfície. Capazes de alterar-se a velocidades antes impensáveis, eles evoluem para vertebrados: répteis gigantescos a princípio, então aves e mamíferos, e afinal surge o homem. Este olha para si mesmo, e é capaz de indagar-se a respeito de si mesmo. Indaga-se de onde veio, por que morre, para onde vai quando morrer, e o porquê de sua própria existência. Ássim surgem Deus; a fé e a filosofia.
Sagitário.
As respostas às perguntas anteriores dão propósito ao homem. Ele direciona seu olhar para a grandeza, e constrói grandes torres, figurativa e literalmente; em especial aquela a que chamam de sociedade, com todos seus andares. Assim o homem dividia e estratificava o universo conhecido, de um modo que pudesse controlá-lo.
Capricórnio.
Ao dividir e controlar a Terra, o homem percebeu-lhe padrões. A esses padrões, chamou-lhes leis, e declarou serem estas as que regem o universo, leis sem rosto que controlam as mudanças do Cosmos e, por isso mesmo, são imutáveis. Do conhecimento destas leis surgiram a magia, a ciência, e os ideais de igualdade, pois que mais uma vez o homem reparou que, apesar de ser ele mesmo, era feito da mesma coisa que todo o resto do universo.
Aquário.
Mas nada disso irá durar. Um dia o Universo, que nasceu de uma explosão, irá encolher-se de novo como se num ventre, ou quem sabe dissipar-se como uma onda no oceano. E então todas as leis se dissiparão, e todos o seres vivos, e todo o tempo e todo o espaço, ondulando até não serem mais nada, nem uma lembrança; como um sonho que não se consegue lembrar.
Peixes.
Mas o que tem o cú com as calças, o ciclo astrológico com a concepção científica da origem e história do Cosmos? Ora, Pedro Bó, será q vc não vê q são nomes diferentes para a mesmíssima coisa? Que o que o cientista pesquisou até reinventar a roda zodiacal, com um palavreado mais bacana? Coincidência? Pois não pense vc q qualquer mito ou versão religiosa da criação e fim do mundo não poderia ser resumido no ciclo astrológico; os signos são figuras arquetípicas, quase universais, de uma abrangência conceitual e linguística imensa, devendo por isso mesmo ser apreciados como instrumentos valiosos. Mas isso não é o mais importante, e sim isto: da mesma forma que os arquétipos zodiacais são repetidos pelo estudo científico da criação, repetem-se em qualquer outro campo de atividade humana. Não é difícil, mas nem um pouco mesmo, traçar paralelos entre a matemática e o Tarô, ou entre a economia e o Judaísmo, digamos.
Isto é um questionamento que Jung já fazia há umas 7 décadas atrás, pelo menos. Segundo seus estudos, o instinto humano ramificava a psiquê em estruturas arquetípicas, através das quais ele compreendia o mundo: como se preenchesse as fôrmas pré-fabricadas de sua mente e sua alma com aquilo que percebia ao seu redor. Assim, segundo ele, haveria, por exemplo, o chamado arquétipo da Grande Mãe, que seria preenchido por qquer figura de aspecto "materno" a pessoa percebesse e ajustasse à suas necessidades, fosse ela a própria mãe biológica, outra pessoa, Iemanjá, Nossa Senhora, a Liberdade ou a Biologia. O padrão arquetípico gravado na alma humana repete-se incessantemente no universo, e é impossível saber se isto ocorre pq tal padrão existe mesmo no universo, ou pq o ser humano o enxerga para onde quer q olhe - o q, afinal de contas, fará pouca diferença, já que é impossível viver sem ele. Ora, até mesmo todos os cientistas e estudiosos que propuseram-se examinar a realidade da maneira mais objetiva possível, se até nas análises deles enxerga-se reminescências dos mesmos arquétipos universais, então é ridiculamente difícil, senão impossível, negar-lhes a existência e a importância. E se eles encontram-se gravados na alma humana, então compreendê-los pela análise subjetiva, interna, é forma de conhecimento tão ou mais importante quanto pela análise objetiva e externa.
Mas a compreensão da alma meus amigos, ah, essa é uma muito distante da realidade física. Não ouse pensar em sua alma como corrente elétrica ou magnética: as compreensões físicas, e muitas vezes até mesmo a lógica, de nada servem para lidar com ela. Mas já cheguei aonde queria chegar: a física apenas não basta, sendo ela ou não a única "verdade". O ser humano necessita enxergar a realidade dividida em dois planos, talvez mais, complexos e interagindo entre si; e enxergar a realidade é alteerá-la, ainda que subjetivamente.
A realidade física não é tudo que há.
posted by Heitor 11:46 PM
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