segunda-feira, janeiro 27, 2003
O EVANGELHO SEGUNDO K.C.
Ano de 1967 D.I.
Brodda e Nardol levitavam pela passagem gravitacional à caminho do shóp, quando avistaram no sentido contrário um jovem usando uma camiseta com a imagem de Celos Cyriatur, astro de Rip que tinha se suicidado recentemente. O Rip era um ritmo recente, com uns meros 30 anos de idade (o que para Brodda e Nardol era um instante), e tinha muitas adesões dos mais novos, que muito lamentavam a morte de seu ídolo; a imagem da camiseta era muito bonita e de grande impacto, pois Celos era mostrado ainda mais jovem do que quando morrera, e era um homem bonito – o que contrastava com a data de sua morte, dois anos antes, estampada logo abaixo da foto em letras maiores do que as do seu nascimento.
Brodda sabia que não seria escutado se dissesse o que pretendia dizer, tendo conhecido seu velho amigo há mais de 130 anos, mas não resistiu assim mesmo:
- Olhando assim, reparando bem esse Celos.
- Sim?
- Tirando a barba dele, não te lembra o Iluminado?
Nardol vestiu sua expressão de severidade.
- Não fale esse tipo de coisa, Brodda.
- Ah, qual o problema?
- Essa sua mania incansável de ficar desafiando os dogmas, esse é o problema. Esse sujeito é um astrozinho de Rip merda, e você fica comparando com –
- Mas é parecido!
- Escuta aqui.
- Não é parecido?
- Não é!
- Tsc.
- O Iluminado é de uma beleza incomparável. Ele é filho de Deus.
- É igualzinho ao quadro dele que tem na sua sala! Igual!
- Brodda.
- Só falta a data de nascimento e de morte embaixo.
- Brodda!
- E tirar a barba dele.
- Pare com isso! Isso que esses moleques fazem é idolatria.
- E você faz o quê com aquele seu –
- Ah, eu sabia, sabia que você ia me acusar!
- Acusar, de que que eu tô te acusando?
- Vou dizer porque eu não idolatro. Eu idolatro palavras do Sábio, a fé dele, e não um quadro idiota.
- Ah, até aí o Celos também compunha.
- Palavras que fazem sentido! Lembre-se dos Evangelhos, Brodda: “só o que ultrapassa a lógica pode guiar-nos até Deus”.
- Besteira.
- Palavras do Iluminado não fazem sentido para nós, humanos, mas têm profundo significado –
- Parece papo de drogado.
- Lembre-se que “com as luzes apagadas é menos –
- O Iluminado devia ser drogadasso.
- Não vou mais ouvir isso!
Chegaram em silêncio ao shóp. Era uma bela construção, em todos seus 15 andares, e suas 4 pilastras, cada uma para um dos evangelistas. Na porta, um dos sacerdotes saudava a todos os passantes, como era de costume:
- Aqui estamos.
- Entretenha-nos. – respondeu Nardol.
Os companheiros sentaram-se em uma das últimas fileiras dos bancos. Brodda o fez em silêncio, pois apesar das aparências e de seu ateísmo tinha um profundo respeito pela religião alheia, muitas vezes participando dos shows. Ele até levantou-se e fez coro quando o Póli, surgindo no palco, clamou a todos:
- Rezemos agora, conforme o Sábio Conselheiro nos ensinou. – e, cerrando o punho acima da testa, prosseguiu:
“Sou o pior no que faço de melhor
E por este dom sou abençoado
Nosso grupo sempre foi
E sempre será até o Fim.”
Abaixou a mão e, dirigindo-se à platéia, seguiu, e esta respondeu com outro verso da oração, mantendo o revezamento:
PÓLI: Com as luzes apagadas.
CORO: É menos perigoso.
PÓLI: Aqui estamos.
CORO: Entretenha-nos.
P: Sinto-me estúpido.
C: E contagioso. Aqui estamos!
P: Entretenham-nos.
E agora, continuaram todos ao mesmo tempo:
“Um mulato
um albino
um mosquito
minha libido
Negação!
Negação!
Negação!”
* * *
Ao término desta primeira e mais tradicional oração, Nardol virou-se para Brodda:
- Você certamente é incapaz de duvidar da sabedoria disso.
- Pode até ser sábio. Mas que parece coisa de drogado, parece.
posted by Heitor 11:35 PM
FUGA Passando pelo blog do Balbi hj acabei por me lembrar de um "reply" q eu estava "devendo" - apesar de não ser exatamente um reply e de eu não estar devendo nada a ninguém, se alguém entende bem o q quero dizer.
Em algum momento, qdo falei de "Livros da Magia", especialmente desse lance de "basta vc querer uma realidade mágica q ela se tornará tal coisa", ele levantou q isso pode ser uma fuga, ou melhor, q ele achava q realmente era isso. Não esperava menos do Aurélio q, como bom Taurino q é (esse negócio de astrologia lenta e progressivamente me transforma num clichê:-)), desconfia naturalmente de tudo q não tenha alguma raiz no chão; mas confesso q esta perspectiva, por incrível q pareça, nunca, NUNCA tinha me ocorrido em relação a esta obra.
Por isso, por um tempo, até pensei: "puta merda, ele tem razão." E aí comecei a tentar entender pq diabos eu nunca tinha olhado dakela maneira, o q logo passou pela hipótese simples e aterradora - "pq eu estou tentando justificar minha fuga". Fazia muito sentido, estou aki idolatrando esta obra pq ela justifica meu anseio por uma vida aérea e desprendida da realidade. Hm. Preciso parar com esta besteira.
Mas alguma coisa ainda coçava na minha orelha esquerda toda vez q pensava nisso, e eu não conseguia pensar em exatamente por qual motivo poderia ser isso, até q me veio o estalo: porra, se eu estou fugindo da realidade, precisamente como os personagens da estória, então pq não me sinto como se estivesse num mundo mágico? Pq a realidade ainda parece uma merda, apesar de todas as fugas?
Pq é impossível fugir da realidade? É, talvez, de uma certa forma. Mas pensando bem, o q os magos de Gaiman fazem não é ficar escapando dos próprios problemas e dos riscos da vida, na verdade muitíssimo pelo contrário: eles encaram todos de frente, às vezes até burramente, são todos os dias perseguidos por seus problemas, e estes mesmos assumem dimensões fantásticas, gigantescas. O próprio enfrentamento da vida já é um gesto q auxilia a transformá-la em algo mágico, o fato de se viver a vida sem restrições, e sem tentar simplesmente rejeitar o lado ruim - não por um acaso, justamente o q Mister Io faz, e bem, olhe só pra ele. Os heróis são todos extremistas, mas não são fugitivos nem muito menos covardes.
Fuga é justamente rejeitar esse lado "místico", desconhecido da vida, q muitas vezes diz respeito apenas a nós mesmos, olhar para o abismo negro do mundo e repetir vinte vezes: "não tem nada aí, nada q me interesse aí, nada de relevante; eu vivo num mundo seguro de coisas sólidas e materiais nas quais posso confiar; eu conheço tudo q há pra se conhecer a respeito do mundo e de mim mesmo; não tem nada além desta vida q me foi oferecida, devo me conformar e vivê-la, ainda q monótona, ainda q eu só a viva pq morro de medo de olhar no escuro". E aí é fitter, happier, more productive/comfortable, not drinking too much/regular exercise at the gym, 3 days a week etc.. Todos os anjos e demônios q habitam a alma são deixados de lado como se nunca tivessem existido, os problemas pessoais e externos são encarados como se não passassem de contratempos bobos, e toda a dimensão maravilhosa e imensa do ser humano e sua vida são deixados de lado.
Acho q essa é a fuga, não só a minha, mas da imensa parcela dos seres humanos. Possivelmente sempre foi assim, as revelações e enfrentamentos sempre estiveram reservados a poucos excepcionais, gênios, heróis, líderes, etc.; mas magia, entenda como entender, não é fuga.
posted by Heitor 6:28 PM
Atualizado quando eu quero e foda-se!
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Bem-vindos! O blog mudou de hospedeiro, mudou de cara, largando aquela coisa de template temático, mas continua a mesma parada tosca.
BONILHA BLOG não é um projeto, não é uma experiência, é apenas um lugar onde posso escrever publicamente o que quer que ache interessante, para quem quer que ache interessante poder ler.
QUEM É VOCÊ?
Heitor Coelho, na casa dos vinte, atualmente no limbo entre bacharelado e advocacia, magalômano, ponto focal de convergência de interesses esdrúxulos, frequentemente confundido com Hector Bonilla, acredita em dialética, astrologia e robôs gigantes.
Se você tem algum comentário sobre esse blog, ou encontrou algum erro, link defeituoso, etc., por favor mande-me um mail
BREVE:
Xenosaga: Episode 2! Haradrynn! Tao 2! E mais referências pseudo-intelectuais do que você poderia contar nos dedos!
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PS: Parei com aquela porcaria de legenda, aquilo dava muito trabalho...
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"APRENDIZ DE FEITICEIRO"- este é dos velhos. Magos infestam um futuro apocalíptico(q, aliás, já passou;-)).
"O ARNALDO É LOUCO" - crônica escolar, sobre meu antigo professor de matemática.
"OS DIAS NEGROS DE KRYNN" - ainda mais velho, meu primeiríssimo. D&D puro, se vc num gosta, fique longe.
"DEZ REALIDADES" - coletânea de dez pequenos contos ligeiramente interligados.
"DESCRENÇA EM 6° CÍRCULO" - menos D&D q Dias Negros, mas muito maior. Velhos companheiros de aventura reencontram-se, agora como inimigos.
"É, MAURÍCIO..." - o trágico fim de Maurício Razi?
"A TERRA DA DEUSA FURIOSA" - uma expedição rumo ao desconhecido e um final inusitado.
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"MATRIZ" - pequena sequência de estórias passando-se na Casa da Matriz, aki no Rio.(antes q vc pergunte, com personagens fictícios)
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"JUSTIÇA" - conto policial com Shade, um detetive levemente amargo.
"MUUNAITE III, DE PARTI" - 2 amigas batem um papinho na festa mais boyplay da cidade.
"TAO, O NOME" - conheça TAO, o maior jogador de videogame de todos os tempos.
"O SONHO DE TAKASHI" - o primeiro conto lodista! Pode Takashi lembrar-se de seu sonho e sua idéia ao mesmo tempo?
"PISANDRO" - um professor de História relembra sua juventude, seu amor perdido, e suas desavenças com Deus e o Destino.
"O EVANGELHO SEGUNDO K. C." - dois senhores discutem música e religião num futuro próximo. Bom, não tanto.
"NADA DEMAIS" - Nada demais mesmo. Juro.
"TAO - POR QUE LUTAR" - Tao, o rei dos games, revela algo do seu passado, e de como começou a jogar sério.
"BRINQUEDOS" - Os brinquedos de Joãozinho eram especiais: podiam falar e até mesmo brincar sozinhos! Ou será que eles estavam trabalhando?