sexta-feira, fevereiro 21, 2003

 
O ÚLTIMO SUSPIRO DO FANTÁSTICO

Então, como eu andei prenunciando pela mudança de template, e como tinha deixado claro pelos posts anteriores... andei jogando Final Fantasy VI :-) Andei jogando Final Fantasy VI bastante. E me empolguei de novo com o bicho, e puta merda: não importa quantas vezes eu jogue esse troço, é sempre foda!

Verdade, já não o considero mais aquela coisa meio sobrenatural que considerava lá pela época de 94/95, quando ele era louvado por absolutamente todo mundo como o maior jogo do gênero já visto.Lembro-me de ter elogiado muito os diálogos aki; jogando de novo percebi que não são assim tãaaaaaao fodas... São bons - ao contrário dos de FFX, q não são. Mas na verdade acho q o que impressionava mesmo era a constatação de que akele bando de bonecos cabeçudos podia agir como se estivesse num filme, o q levava à súbita compreensão de q a estória contada ali podia ser tão boa qto a de um filme, apesar de ser apenas uma representação bem-intencionada. Na verdade, quando o Raposo disse que FFX era um filme interativo, concordei com ele, pq aparentemente é o q a Square vinha tentando fazer com a série desde FFIV. Só q eu ainda acho q os bonequinhos cebçudos 2d são melhores atores do que todos os enormes personagens poligonais de FFVII ao X juntos, especialmente os do VI - putz, eles eram muito divertidos! Todas as carinhas de surpresa, e os saltos e giros que eles davam quando ficavam surpresos, e o jeito que se jogavam no chão quando ficavam tristes... acho q gde parte do que fazia os heróis e vilões de FFVI tão carismáticos eram seus respectivos bonecos 2D.

De toda maneira, o que eu ia dizendo era: FFVI foi talvez o primeiro jogo que joguei que desenvolvia uma narrativa boa o bastante pra ser comparada a um filme, livro, peça, etc., no máximo perdendo o posto pra seus antecessores, em especial o IV. Mas nenhum outro FF jamais o alcançou, nem os que vieram antes, nem os depois, pq VI tinha alguns trunfos que o tornavam especiais.

Provavelmente o mais importante era seu elenco enorme e único; nunca o Character Design de Amano foi tão bom, tantas vezes no mesmo jogo. Não morro de amores por todos os PCs de FF VI, mas há muitos poucos de quem desgosto, em particular Relm e, um pouco, Gau. Até mesmo Umaro é legal. Todos os outros FFs contavam com pelo menos uns 3 personagens sem-graça, imprestáveis ou simplesmente escrotos, sendo q estes jogos já tinham um elenco menor logo de cara. Além disso temos uma série enorme de personagens ao mesmo tempo profundos, emblemáticos e maneiros: Terra é emblemática do herói "divino", atormentada pela ausência de propósito, pela falta de sua capacidade de sentir-se humana, enfim, pela herança de dois mundos; Locke é o malandro de plantão, mas que guarda um imenso complexo de culpa e tenta compensar protegendo a todos; Edgar e Sabin são um caso arquetípico de escolha, o último preferindo a liberdade para fazer o que quisesse, o primeiro preferindo o poder e a responsabilidade que eram suas por direito; Cyan o cavaleiro que dedicou a vida a proteger seu rei, seu reino e sua família, mas perdeu a todos, é praticamente um Ronin com sabres; Shadow é o estranho sinistro com um passado obscuro que ajuda nas horas mais inesperadas; Celes é a vilã regenerada, que descobre que tudo em que acreditava era mentira e passa buscar um novo motivo para viver e uma nova guerra para lutar; e Setzer vive pelo carpe diem, como se a vida fosse um grande jogo, mas as lembranças da vida que ele já teve o fazem perceber o quanto isso é uma grande fuga inútil - acho q a estória dele, tantos anos atrás, ainda é o que mais me influencia quando digo que diversão apenas é um propósito pequeno.

Aí é capaz de aparecer alguém e dizer "poxa, Heitor, mas vc já é um adulto, além do mais um sujeito tão inteligente, se deixando influenciar até hoje por, por... um videogame!". Duas coisas: primeiro, quem disse que sou inteligente? Segundo, não há problema nenhum em se influenciar por uma obra de boa qualidade, especialmente algo do calibre de FF VI, qualquer que seja o meio pelo qual ela é passada.

E a estória de FFVI é E-X-C-E-L-E-N-T-E, não pelo cenário, q é bom mas não excepcional, ou pelos diálogos, que na verdade são muitas vezes típicos, e infelizmente às vezes derrapam para um sentimentalismo barato (ainda bem que o Kefka está sempre lá pra esculachar essa bobajada); a estória é excelente pq é profunda, inesperada, complexa e dotada de um conteúdo moral simbólico e literal extremamente valioso, quer seja através dos temas particulares de cada protagonista, quer seja através do tom geral do Épico - pq é isto q os jogos da série são, Épicos -, ou seja, do confronto entre as destruição e a esperança, do eterno ciclo de aniquilação que elimina o propósito contra a vontade de viver. FF VI deixa bem clara a opinião de que a vida sem algo pelo qual viver não só não vale à pena, como gera apenas uma vida ineliz, e ao mesmo tempo demonstra que a destruição não invalida o construído, que fazer parte do ciclo, especialmente a parte positiva do ciclo, é o suficiente para trazer paz e plenitude à alma humana.

É verdade que o final da estória é mais complicado de se entender do que o geral dela. Há algo de budista nele, como suspeito que haja em todos os FFs, e como há em Xenogears e Chrono... todos demonstram a vida sob um ciclo de forças fantásticas. Em FF IV é a das duas luas; no V o dos cristais e dos dois mundos; no VI, da magia, dos espers e da destruição absoluta que eles estão fadados a causar; no VII é Jenova e a Materia; no VIII, são os Guardian Forces e as Bruxas-Feiticeiras... todas essas são forças naturais fantásticas e constantes que ditam os rumos cíclicos de seus respectivos mundos, causando-lhe ao mesmo tempo maravilhamento e sofrimento. Ao longo da estória os heróis percebem que a causa de ambos é a mesma, isto é: a mesma coisa faz de seu mundo ao simultaneamente incrível e miserável, e assim eles colocam-se contra essas forças, desafiando-as segundo suas próprias regras (magia contra magia), para enfim confrontá-las numa última e grandiosa batalha, um fulgoroso último lampejo do fantástico, e a seguir derrotá-las, destruí-las e encerrar a existência do ciclo. O objetivo último de todo o Final Fantasy é justamente destruir aquilo que fazia de seu mundo algo único e especial - daí o título, pois vc está presenciando a última Fantasia de um mundo - assim como o objetivo último do Budista é fugir não só de todos os desejos, medos e sensações, mas também da lógica, enfim de tudo que o liga ao ciclo de dor e sofrimento que chamamos de vida. Acho que vcs vão concordar comigo qdo digo q são justamente estas coisas que tornam nosso mundo um lugar especial!

Pois assim como o próprio Buda teve seu grandioso embate com Morte-Desejo (Kama-Mara, que eu carinhosamente apelidei de deus Touro-Escorpião) e só então pôde dar fim ao ciclo, tornando-se um iluminado, também os heróis de FF VI tiveram seu grande confronto final com Magia-Destruição, no disfarce de Kefka, e após sua derrota puderam restaurar seu mundo. A diferença maior, além da multiplicação de protagonistas é claro, está na profunda melancolia que ataca após o final de FF VI, ausente dos mitos Budistas, nos quais a Iluminação traz apenas júbilo a todo o universo.

É claro, essa relação direta minha com o budismo pode mesmo ser infundada; afinal a dissipação do fantástico, como ocorre na série FF, é na verdade elemento comum de inúmeros outros mitos, a começar pelo da própria Atlântida, passando pelos contos Arturianos e chegando até mesmo ao Senhor dos Anéis de Tolkien. Imagino que as raízes disto venham mesmo de muito antes do Budismo (uma religião "moleque" de meros 2.500 anos de idade), talvez em alguns pontos onde a imagética mítica cíclica dos agricultores tenha principiado um questionamento de si mesma. Talvez mesmo por causa da influência nômade-xamânica que Campbell apontava sobre estas mesmas civilizações, que logo aprenderam com aqueles a prever seu próprio fim. Isto não sei, mas que há um ponto de ligação, há - e poucas obras contemporâneas evidenciam, desenvolvem e desfecham este tema de maneira tão encantadora quanto a série Final Fantasy, especialmente este sexto episódio que homenageio agora.

FF VI é jogo pra vc aprender que pixel é arte. Guardem isso na cabeça, camaradas.
posted by Heitor 2:13 PM

 

"Eu esperei uma eternidade por isso... atualizaram o bonilha!"

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Nem todo mundo pode parecer sinistro. A maioria fica apenas... ridícula.

Bem-vindos! O blog mudou de hospedeiro, mudou de cara, largando aquela coisa de template temático, mas continua a mesma parada tosca.

BONILHA BLOG não é um projeto, não é uma experiência, é apenas um lugar onde posso escrever publicamente o que quer que ache interessante, para quem quer que ache interessante poder ler.

 

QUEM É VOCÊ?

Heitor Coelho, na casa dos vinte, atualmente no limbo entre bacharelado e advocacia, magalômano, ponto focal de convergência de interesses esdrúxulos, frequentemente confundido com Hector Bonilla, acredita em dialética, astrologia e robôs gigantes.

Se você tem algum comentário sobre esse blog, ou encontrou algum erro, link defeituoso, etc., por favor mande-me um mail

BREVE:

Xenosaga: Episode 2! Haradrynn! Tao 2! E mais referências pseudo-intelectuais do que você poderia contar nos dedos!

CONTOS DO BONILHA!

O velho Kryptus parece meio cansado... já faz 8 anos q ele estreou um conto meu.

Para você ler online, ou baixar para ler no seu computador. Um estoque permanente de toda minha "extensa" obra literária!

PS: Parei com aquela porcaria de legenda, aquilo dava muito trabalho...

CONTOS:

"APRENDIZ DE FEITICEIRO"- este é dos velhos. Magos infestam um futuro apocalíptico(q, aliás, já passou;-)).

"O ARNALDO É LOUCO" - crônica escolar, sobre meu antigo professor de matemática.

"OS DIAS NEGROS DE KRYNN" - ainda mais velho, meu primeiríssimo. D&D puro, se vc num gosta, fique longe.

"DEZ REALIDADES" - coletânea de dez pequenos contos ligeiramente interligados.

"DESCRENÇA EM 6° CÍRCULO" - menos D&D q Dias Negros, mas muito maior. Velhos companheiros de aventura reencontram-se, agora como inimigos.

"É, MAURÍCIO..." - o trágico fim de Maurício Razi?

"A TERRA DA DEUSA FURIOSA" - uma expedição rumo ao desconhecido e um final inusitado.

"NÉVOA PRATEADA" - a sequência de "Aprendiz de Feiticeiro".

"MOLHADO" - um assento de Ônibus molhado e muita realidade consensual.

"MATRIZ" - pequena sequência de estórias passando-se na Casa da Matriz, aki no Rio.(antes q vc pergunte, com personagens fictícios)

"RANDÔMICOS" - a origem de Gericault, andarilho dos olhos prateados, e um breve debate sobre Destino, Acaso e Morte.

"KÉRAMUS E O POTE DE VENTO" - a história do mago mais poderoso de Heshna, e de como ele consegiu encher um pote com vento.

"JUSTIÇA" - conto policial com Shade, um detetive levemente amargo.

"MUUNAITE III, DE PARTI" - 2 amigas batem um papinho na festa mais boyplay da cidade.

"TAO, O NOME" - conheça TAO, o maior jogador de videogame de todos os tempos.

"O SONHO DE TAKASHI" - o primeiro conto lodista! Pode Takashi lembrar-se de seu sonho e sua idéia ao mesmo tempo?

"PISANDRO" - um professor de História relembra sua juventude, seu amor perdido, e suas desavenças com Deus e o Destino.

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"BRINQUEDOS" - Os brinquedos de Joãozinho eram especiais: podiam falar e até mesmo brincar sozinhos! Ou será que eles estavam trabalhando?