sexta-feira, setembro 05, 2003

 
RITO DE QUÊ?

Como disse pro meu camarada Balbi ontem, enquanto assistíamos à megalomaniacamente brega cerimônia de colação de grau de Medicina da UFF, não sei pro resto do mundo, mas tenho certeza q, ao menos a meu ver, enquanto rito de passagem, formatura hj em dia é um completo fracasso.

Sem querer desmerecer o Fernando, amigo q fomos ver lá ontem, - e cuja participação na cerimônia gerou o momento mais divertido das cerca de 4 entediantes horas - mas ritos de passagem como estes deveriam marcar a transição final da juventude para a idade adulta; e o q vi lá ontem, talvez com algumas exceções, foi gente q entrou e saiu de lá um bando de moleques. Eles estão indo encarar a vida sem a menor idéia do q isso possa vir a ser.

É claro q, por outro lado, me diverti um bocado com akela palhaçada.

* * *

- Eu gostaria de esclarecer uma coisa a respeito da escolha desta música de fundo, ao longo da nossa entrada. Ela não tocou por acaso, tocou porque reflete toda uma filosofia pela qual nós guiamos esta instituição.
Aplausos.
- É minha crença mais arraigada, como coordenador da Vice-Reitoria de Medicina desta nobre Universidade, e como pós-graduado em pedagogia do ensino, que estão ultrapassadas as teorias liberais sobre educação, enganam-se aqueles que julgam ser papel do professor tornar-se um amigo ou confidente dos alunos, aqueles que acreditam que ele deve ganhar o respeito de seus tutelados ao liderar pelo exemplo. Nós nos posicionamos contra todo este absurdo. A "Marcha do Império", de John Williams, acompanhada pelo nosso desfile nos Uniformes Brancos dos Storm Troopers, assim como este Capacete Negro que agora uso, simbolizam nossa postura a favor do autoritarismo, da tirania, e do ensino retrógrado de uma maneira geral.
- Aplaudam ou enforcaremos vocês à distância com nossos poderes do Lado Negro da Força!

* * *

- Desde o primeiro ano da faculdade, todos sempre desconfiaram de seu jeito meio meigo e de sua voz fina. Também estranhavam por ele ver novela, estar sempre por dentro das fofocas, só andar rodeado de mulheres e nunca pegar nenhuma. Mas 3 meses atrás, a verdade finalmente veio à tona, quando o pegamos com o prof. Alfonso mandando ver na CTI. Chamo o proctologista e estudante mais Gay de toda a História da UFF, Dr. Joarez Rodrigues Alves!

Música: "It's raining man! Allellujah it's raining man, hey man!"

- Vem chegando, Joarez. Olha lá a sua família toda veio ver, a cara de feliz do seu pai, ele nem consegue aplaudir de tão emocionado. Meus parabéns! Ué, que faca é essa aí?

* * *

- "(...) e tantos outros momentos que passei aqui, inesquecíveis. Posso dizer que nunca vi turma mais unida. E todo o esforço pelo qual passamos, as regras duras a que os professores nos submeteram, as noites em claro estudando; quarta-feira de noite ninguém precisava nem ligar pro outro pra saber o que estavam fazendo: todo mundo estudando pra prova do prof. Alfonso. Mas hoje aqui, neste rito de passagem que é com certeza o mais importante da minha vida, vejo que tudo valeu à pena, gente, valeu mesmo. Do fundo do coração."

Aplausos emocionados.

- Pessoal, pessoal. Eu tenho mais um agradecimento a fazer, e primeiro tenho que dizer que vocês estão aplaudindo a pessoa errada. Porque estas palavras não foram escritas por mim, elas foram escritas pelo Alexandre Azevedo, formando do 2° Semestre de 93, que está completando 10 anos de formatura agora.

Aplausos cessam.

- Enfim, eu devo pedir desculpas porque estava com preguiça de escrever um texto novo, mas nem fez muita diferença, mesmo. Além disso, eu sou horrível com coisa brega.

Alexandre Azevedo aplaude.

- Valeu, Alexandre! Ah, e tudo que eu disse não se estenda às seguintes pessoas, que são babacas pra caralho:

Puxa lista do bolso.

* * *
- Ah lá, ah lá, agora é o Fernando!
- Nem é.
- Ele disse franzino.
- Ele já disse franzino 3 vezes.
- Olha só, disse que quando fica nervoso, sai de baixo! Pô, só pode ser ele.
- Não é ele.
- ... é, num é.
- Ele vai ter um negócio de "atenção, mulheres do Brasil", "objeto de seu desejo".
- Que horas são?
- Duas e quinze da manhã.
- Saco.
- Caralho, essa oradora é um saco.
- É uma apresentadora, não uma oradora.
- Foda-se.
- Ah lá, ela tá tirando meleca do nariz!
Buzinas.
- Olha isso.
- PARA COM ESSA PORRA, SEU FILHO DA PUTA!
- Caralho, nego é muito ridículo.
- Ae, bora matar esse filho da puta.
- Bora. Me dá o Sniper.
- Tó.

* * *

- Bom, antes de começar este meu discurso como paraninfo, eu queria pedir a todos que não se preocupassem. Sei bem que sou um sujeito muito prolixo e conheço minha reputação, mas fiquem aliviados, pois eu serei bastante breve. Acalmem-se, podem se acalmar, fiquem calmos. Eu.

Checa os bolsos, apalpa o corpo.

- Eu... tenho uma bomba!

* * *

- Ele é um sujeito com dupla, não, tripla personalidade. De um lado, um sujeito aplicado, meio caxias, tímido, sem jeito, que gosta de músicas estranhas e de desenhar em sala de aula.
- Aí, é o Renato. Renato!
- Quê?
- Prestenção, rapá, é você, eles tão falando de você!
- De outro, um tremendo boêmio que só quer saber de festas e de bebida, sempre em todas as naites, o maior pegador.
- Tá vendo, é você!
- Porra, como assim sou eu?!
- É você, tripla personalidade, sem jeito por um lado boêmio por outro!
- Mas eu não tô me formando!
- Eu sei, mas é você!
- Um sujeito brilhante, um grande analista e empreendedor, com certeza uma grande promessa na área que escolheu.
- Isso é ridículo. Eu entrei na faculdade de Belas Artes no semestre passado!
- Eu sei!
- Não é comigo.
- Mas, acima de tudo, amigo de todos, e fiel companheiro ao longo de toda essa longa jornada de 6 anos. Chamo o Psiquiatra, e homenageado especial de nossa noite de formatura, Dr. Renato Ávilla!
- Sou eu!?
Hoolofotes em cima de Renato.
- Meus parabéns, Renato!
- Mas eu não me formei! Escutem, deve haver algum enga.
- Muito bem!
- Meus parabéns!
- O próprio Reitor irá entregar o diploma a este brilhante...
- Sobe lá!
- Escuta! Eu não sou médico! Eu nem gosto de medicina!
- ... para subir ao palco, por favor!
- Um gênio!
- ...sempre soube que...
- Eu quero ser artista plástico! É meu sonho!
- Vamos carregá-lo até o palco.
- ... a turma inteira prestará uma homenagem a Renato, carregando-o...
- Estou tão orgulhosa dele.
- Parem com isto! Mãe, para, mãe! Que é isso, me larguem! Me ponham no chão agora!

Mas conforme ia sendo carregado em direção ao palco, Renato foi pensando que, afinal de contas, não devia ser tão ruim assim ser médico psiquiatra. Um sedativo aqui, uma camisa de força ali. Trabalho duro no começo, talvez, mas depois um posto mais alto, algum renome acadêmico, e estava começando com o pé direito nessa direção, - "aplausos para Renato Ávilla!" - logo poderia ser até professor, e... e depois, quando lhe sobrasse tempo e dinheiro, uma exposição e seria reconhecido como artista que era. Sem ter que morar na quitinete, tomar banho frio e pedir empréstimos no banco, - "é com muita honra que entregaremos este diploma para" - sem brigas com a mulher por falta de dinheiro, uma família, uma aposentadoria garantida. E as becas, e os canudos, e as fotos com as turmas, toda aquela pompa...

É, até que não era tão ruim assim, pensou, e parou de resistir. Deixou-se levar rumo ao palco, sonhando com as glórias de uma vida dedicada à medicina...

posted by Heitor 10:17 PM

Bem-vindos! O blog mudou de hospedeiro, mudou de cara, largando aquela coisa de template temático, mas continua a mesma parada tosca.

BONILHA BLOG não é um projeto, não é uma experiência, é apenas um lugar onde posso escrever publicamente o que quer que ache interessante, para quem quer que ache interessante poder ler.

QUEM É VOCÊ?

Heitor Coelho, na casa dos vinte, atualmente no limbo entre bacharelado e advocacia, magalômano, ponto focal de convergência de interesses esdrúxulos, frequentemente confundido com Hector Bonilla, acredita em dialética, astrologia e robôs gigantes.

Se você tem algum comentário sobre esse blog, ou encontrou algum erro, link defeituoso, etc., por favor mande-me um mail

BREVE:

Xenosaga: Episode 2! Haradrynn! Tao 2! E mais referências pseudo-intelectuais do que você poderia contar nos dedos!

CONTOS DO BONILHA!

Para você ler online, ou baixar para ler no seu computador. Um estoque permanente de toda minha "extensa" obra literária!

PS: Parei com aquela porcaria de legenda, aquilo dava muito trabalho...

CONTOS:

"APRENDIZ DE FEITICEIRO"- este é dos velhos. Magos infestam um futuro apocalíptico(q, aliás, já passou;-)).

"O ARNALDO É LOUCO" - crônica escolar, sobre meu antigo professor de matemática.

"OS DIAS NEGROS DE KRYNN" - ainda mais velho, meu primeiríssimo. D&D puro, se vc num gosta, fique longe.

"DEZ REALIDADES" - coletânea de dez pequenos contos ligeiramente interligados.

"DESCRENÇA EM 6° CÍRCULO" - menos D&D q Dias Negros, mas muito maior. Velhos companheiros de aventura reencontram-se, agora como inimigos.

"É, MAURÍCIO..." - o trágico fim de Maurício Razi?

"A TERRA DA DEUSA FURIOSA" - uma expedição rumo ao desconhecido e um final inusitado.

"NÉVOA PRATEADA" - a sequência de "Aprendiz de Feiticeiro".

"MOLHADO" - um assento de Ônibus molhado e muita realidade consensual.

"MATRIZ" - pequena sequência de estórias passando-se na Casa da Matriz, aki no Rio.(antes q vc pergunte, com personagens fictícios)

"RANDÔMICOS" - a origem de Gericault, andarilho dos olhos prateados, e um breve debate sobre Destino, Acaso e Morte.

"KÉRAMUS E O POTE DE VENTO" - a história do mago mais poderoso de Heshna, e de como ele consegiu encher um pote com vento.

"JUSTIÇA" - conto policial com Shade, um detetive levemente amargo.

"MUUNAITE III, DE PARTI" - 2 amigas batem um papinho na festa mais boyplay da cidade.

"TAO, O NOME" - conheça TAO, o maior jogador de videogame de todos os tempos.

"O SONHO DE TAKASHI" - o primeiro conto lodista! Pode Takashi lembrar-se de seu sonho e sua idéia ao mesmo tempo?

"PISANDRO" - um professor de História relembra sua juventude, seu amor perdido, e suas desavenças com Deus e o Destino.

"O EVANGELHO SEGUNDO K. C." - dois senhores discutem música e religião num futuro próximo. Bom, não tanto.

"NADA DEMAIS" - Nada demais mesmo. Juro.

"TAO - POR QUE LUTAR" - Tao, o rei dos games, revela algo do seu passado, e de como começou a jogar sério.

"BRINQUEDOS" - Os brinquedos de Joãozinho eram especiais: podiam falar e até mesmo brincar sozinhos! Ou será que eles estavam trabalhando?