sexta-feira, outubro 10, 2003

 
É JUSTO ISSO?

O nome "Góis Monteiro Analistas e Consultores S.A." não passava mesmo de um embuste exagerado, visto que a dita cuja Sociedade Anônima era uma sala de 3,5 por 4 metros num prédio velho entre o Centro da cidade e a Lapa, onde Diego Leme de Sá Góis Monteiro mantinha uma única mesa, enquanto Juvenal se conseguia espaço pra escrever no banco, estava feliz; e que o Dr. Diego mantinha 98,7% das ações, sendo o restante de sua mulher, Dona Beatriz, que Juvenal só tinha visto uma vez na vida.

Juvenal não ligava muito, pois apesar da origem pobre tinha a oportuniddade de fazer um trabalho qualificado, por isso não reclamava, apesar de todos os maus tratos do Dr. Diego. Dizia que, no fim das contas, ele era um bom sujeito, tinha lhe dado até ações da firma, e que tinha muito em consideração sua capacidade de analista e consultor - o que era verdade, já que era Juvenal quem cuidava de praticamente todas as consultorias. Dr. Diego ficava com uma ou duas, é claro, via de regra porque as arrancava de Juvenal sempre que ele levava muito tempo, sob alegações de incompetência - verdade que ele acabava demorando muito mais e que, discreta e disfarçadamente, resmungava as questões difíceis, de modos que o outro sempre acabava lhe ajudando um pouquinho. Também sempre sobrava tempo para Juvenal levar um cafézinho, pagar umas coisinhas no banco, "segurar as pontas" enquanto Dr. Diego almoçava - e enquanto ele jantava, lanchava, ia ao banheiro...

Juvenal não reclamava muito porque, apesar de tudo, Dr. Diego era melhor que seu chefe anterior, que o usava como boy, e porque pensava em sua carreira. Mas como tinha sido muito mais instruído que todos na sua família, em algumas das suas 12 horas de trabalho diário às vezes deixava escapar um pouco sua insatisfação, dizendo algo como:

- Poxa vida, dr. Diego... eu estava pensando.
- Pensando, Juvenal?
- É, pensando, o senhor sabe. Eu fico aqui das 8 às 8.
- Hm.
- Eu não paro pro almoço, não tenho lanche, quando vou no banheiro o senhor cobra pra eu andar rápido.
- Tá no escritório é pra trabalhar e não pra cagar, Juvenal.
- É bem. Eu faço pelo menos meia dúzia de consultorias e outra de análise por dia, o senhor faz uma de cada.
- Não confunda qualidade com quantidade, olha o marxismo, Juvenal.
- É, sei. Mas mesmo com tudo isso, não ganho vale transporte, não ganho ticket refeição, e meu salário é de 450 por mês.
- Não esqueça da sua gratificação, Juvenal.
- É, mas eu faço todo esse trabalho, e a sociedade leva 10.000 por mês, e.
- E o quê, Juvenal?
- Quer dizer, é justo isso, doutor? É justo eu fazer tanto e levar tão pouco?
- Se é justo? - e nisso Dr. Diego levantava-se da cadeira, fechava o rosto, largava o que estava lendo. - Eu te digo o que é justo. Sabe no nome de quem está essa sociedade?
Juvenal abaixava a cabeça e não respondia nada.
- E se a sociedade for à falência, você sabe os bens de quem vão ser penhorados?
Ele sabia que o justo mesmo era que quem corresse os riscos, levasse os lucros.
- E se a sociedade ficar devendo, sabe o nome de quem fica sujo? E se sofrer processo criminal, sabe quem vai preso?

Nisso Juvenal ficava quieto e voltava a fazer seu trabalho, enquanto Dr. Diego calmamente lia seu jornal.

E as coisas seguiam assim, Juvenal trabalhando as 12 horas por dia, o salário igual, o crescimento da sociedade igual, a inflação igual, mais dia menos dia Juvenal não se continha e perguntava de novo:

- Dr. Diego, o senhor vive dizendo que eu vou ter oportunidade de ascensão na carreira. Aí vai num bando de festa, que nem ontem, mas nunca me chama, e eu sei que eu poderia conseguir oportunidades, porque sei que sou bom, o senhor mesmo reconhece, essa sociedade deve tanto a mim.
- Justo? Se é justo? Eu te digo o que é justo. Sabe quem dá o dinheiro dos presentes pra todos esses figurões, pra que eles nos chamem pras festas?
E Juvenal mais uma vez calava-se e abaixava a cabeça.
- Sabe o nome de quem vai pra lama, se alguém comete uma gafe? Sabe o pescoço de quem que vai ser arriscado, quando alguém vier cobrar resultados? Sabe a reputação de quem vai pro buraco se a gente faz uma previsão errada, que causa prejuízo a um desses figurões? Sabe os bens de quem vão à penhora, se um dia isso aqui vai à falência? Hein? Sabe?

Ele fazia que sim, voltava a trabalhar. Até que o dia em que entrou um mega-investimento na sociedade, que aumentou os lucros em 50%, e aí Juvenal não aguentou:

- Dr. Diego, meu trabalho continua muito e sempre eficiente, mas quando entra um investimento desses, nem minha gratificação aumenta. É justo isso?
- Justo, Juvenal? Se é justo? Eu te digo o que é justo. Sabe quem é que está entrando com o dinheiro pra essa parceria? Sabe quem é que vai ter que cobrir os prejuízos se tudo der errado? Sabe o nome de quem vai pra lista negra, se a gente não devolver os investimentos? Hein? Sabe?

E Juvenal calava-se, abaixava a cabeça.

Até o dia em que os lucros da sociedade aumentaram em mais 100%. Nesse dia, analisando as contas, Juvenal percebeu que seu chefe estava entrando num esquema para fraudar o fisco, subornar funcionários do alto escalão do governos estadual, e lavar dinheiro desviado dos cofres públicos, tudo ao mesmo tempo. Aí realmente não se conteve:

- Dr. Diego, não só toda a papelada desta sociedade está irregular, meu salário continua uma merda, eu me mato de trabalhar e ninguém reconhece, o senhor me trata mal, sabota minha carreira, e agora ainda está burlando o fisco e participando de uma série de atividades ilegais, e espera escapar ileso! É justo isso?
- Se é justo, Juvenal? Eu te digo o que é justo. Se o fisco pega toda essa tramóia, sabe o nome de quem vai pro SPC?
Juvenal mais uma vez abaixou a cabeça, resignado.
- Se movem ação contra a gente, sabe os bens de quem vão à penhora? Se moverem processo criminal, sabe quem vai preso? E se os criminosos de colarinho branco ficam sem o deles, sabe de quem eles vem cobrar? E sabe quem eles não vão hesitar em incriminar e matar? Hein? Sabe?
Ele já se preparava para voltar ao trabalho, quando, pela primeira vez, Dr. Diego completou.
- Você.
- Hã?
- É, você mesmo. O negócio ficou perigoso ontem e eu passei tudo pro teu nome. A polícia está com um mandado e deve estar arrombando a porta da sua casa a qualquer minuto, agora. Além disso, teu nome tá na lista negra de dois um falsificador de dinheiro e um cara do morro que trabalha com um deputado.
- Ma, mas... e o senhor?!?
- Eu tô indo pro México. Fui.
posted by Heitor 5:07 PM

terça-feira, outubro 07, 2003

 
Atualizei hoje o Carrasco de Órion. Foi pouca coisa, mas com sorte consigo dar sequência ainda esta semana.
posted by Heitor 10:06 PM
segunda-feira, outubro 06, 2003

 
BONILHA REVIEWS

Bom, após uma semana e pouco de velox, apesar dos percalços andei pegando muuuita coisa excêntrica pra ver no cpu, e vou deixar aki meu pitaco no q valeu e não valeu pra quem interessar possa.

Transformers Clássico - 1ª Temporada: Vi todos menos o Countdown to Extinction e Ultimate Doom - justamente os q nunca passaram no brasil. Apesar de ser meu sonho dourado de infância ter estes episódios em casa pra ver qdo quiser, vale dizer q boa parte da magia desapareceu com a idade... TF ainda é, junto com GIJoe (Comandos em Ação) a "Ilíada" dos desenhos animado, mas a evolução da série foi monstruosa e estes episódios são bem fraquinhos, só valem mesmo pra fanáticos doentes mentais feito eu, q desde os 3 anos de idade olham desconfiados pra tudo q é carro na rua na esperança de q se transforme num robô gigante e fiquem amigos. A dublagem americana é muito fraquinha, o roteiro, simples, e os desenhos meio toscos (exceto pelo 16°, Heavy Metal War, q é melhorzim). Valem para reviver os episódios mais clássicos, rever os primódios: a queda na Terra, surgimento dos Dinobots, o primeiro Gestalt (Devastador) ... mas se vc não é tão fã e, mesmo assim, quer dar uma espiada no filão dos cybertronianos, recomendo q parta ou para o longa (TF: The Movie, q tem boa animação, roteiro, diálogos... enfim, é muito bom), ou para a mais recente Beast Wars (q tem desenho meio tosco mas o roteiro e argumento primoroso).

Transformers: O Filme: Tá certo, foi provavelmente a 137ª vez q vi esse filme, mas a primeira totalmente em inglês. Portanto, só tenho uma coisa a acrescentar: exceto pelo Eric Idle, todos os dubladores do filme são piores q os nacionais. Claro q se vc, ao contrário de mim, não tem um VHS do dia da criança de 1989 cuidadosamente guardado, ver a dublagem brasileira não é uma opção e, portanto, não fará diferença.

Macross Plus: Peguei esse pq eskeci q já tinha visto no multishow muito tempo atrás; se lembrasse, não teria pego, pq achei horrível. Revendo hj, melhorei um pouco minha opinião sobre ele... acho q minha opinião sobre ele partiu muito do fato dele não me oferecer mais um quebra-pau com os Zentraedi como nos bons tempos do Robotech na Globo. Deixando as expectativas de lado, o lance da AI, a arte e o character design legalzim até q valeram a pena - se vc conseguir sobreviver à HORROROSA dublagem americana.

Saint Seiya - Hades: Pra quem não sabe, Saint Seiya é só o nome original do velho Cavaleiros do Zodíaco, aqueles q apesar do nome não têm cavalos. Hades é a parte final dele, q no mangá já existe há anos, mas só foi adaptada pra vídeo há pouco no Japão... Akela estória: a animação está bem melhor, e o roteiro até q é menos enrolado e mais original do q na maior parte do seriado, já q agora são os vilões quem invadem as 12 Casas, e vc irá torcer a favor dos cavaleiros de Ouro (ou não). Mas... ainda é Cavaleiros; sabe como é: "Golpe do galo marrom enfurecido!!!" "PAAAAAAH!" "Oh, como ele pode ter defendido meu golpe??" "HAHAHAHA vc está perdido, tome isso! isso! isso!" "Ugh" "COmo, vc ainda não morreu?" "Ah não posso... Atena depende de mim!" "Tome de novo!" "Pah!" "Defendeu?!" "Um golpe não funciona duas vezes num cavaleiro!" "Oh" "E descobri seu ponto fraco!", etc. Quem ainda está enjoado, continuará enjoado.

Rurouni Kenshin: Decididamente a maior surpresa da lista. Rurouni Kenshin (Kenshin, o Andarilho) é o nome original da razoável série de anime Samurai X, por sua vez baseada num mangá homônimo q é bem melhor q ela; mas esta série OVA de 4 capítulos (q acho q não tem um título como conjunto) deixa os dois no chinelo. Ela narra o passado de Kenshin, e foi feita apenas para o vídeo pq... bem, pq a vida do cara é uma tragédia sem tamanho, 20 vezes mais pesda q o conteúdo da série. No mangá todos os eventos deste OVA são narrados pelo próprio Kenshin durante a Jinshuu, a última (e melhor) saga - tbm cortada da série de TV - e eu, q já li, já sabia o roteiro... e mesmo assim, a coisa teve impacto.

A arte e a animação são impecáveis, contando com um caráter mais realista q o geral da série, dando uma amansada no character design às vezes estapafúrdio do original, mais impacto aos combates, e contrastando beleza e horror; a trilha não é nenhum espanto mas tbm é muito boa. Livres da censura, os diretores perderam a linha muito sério na violência, este é talvez o Anime mais violento q já vi, e mesmo um dos filmes mais violentos q já vi, até pq não se limita à violência física. O drama central da saga, o desejo de Kenshin de proteger seus amados, q sempre termina por gerar mais morte, aqui corre solto, sem o final feliz obrigatório q Watsuki (criador da série) gosta de impor: aqui a veia trágica da estória se revela da forma mais cruel, e o ensinamento quase profético de Seijuro, mestre de Kenshin, não fica só na promessa: espadas são armas, técnicas da espada são técnicas da morte. Se vc pretende levantar sua espada, então prepare-se para viver ao lado da morte, e não espere que nenhuma pílula venha dourar esta verdade.

Pra quem tem um mínimo de gosto por estórias de samurai, de guerra, ou qquer tipo de tragédia; ou mesmo se vc é fã do Kenshin e/ou de anime em geral: dê uma olhada neste vídeo pq ele é foda.

Ah... por enquanto é só... ainda peguei muito pouco do Lodoss War, qdo tiver mais comento aki tbm.
posted by Heitor 9:21 PM

 

"Eu esperei uma eternidade por isso... atualizaram o bonilha!"

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Atualizado quando eu quero e foda-se!

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Gundam

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alguém devia proibir esse tipo de trocadilho idiota.

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Nem todo mundo pode parecer sinistro. A maioria fica apenas... ridícula.

Bem-vindos! O blog mudou de hospedeiro, mudou de cara, largando aquela coisa de template temático, mas continua a mesma parada tosca.

BONILHA BLOG não é um projeto, não é uma experiência, é apenas um lugar onde posso escrever publicamente o que quer que ache interessante, para quem quer que ache interessante poder ler.

 

QUEM É VOCÊ?

Heitor Coelho, na casa dos vinte, atualmente no limbo entre bacharelado e advocacia, magalômano, ponto focal de convergência de interesses esdrúxulos, frequentemente confundido com Hector Bonilla, acredita em dialética, astrologia e robôs gigantes.

Se você tem algum comentário sobre esse blog, ou encontrou algum erro, link defeituoso, etc., por favor mande-me um mail

BREVE:

Xenosaga: Episode 2! Haradrynn! Tao 2! E mais referências pseudo-intelectuais do que você poderia contar nos dedos!

CONTOS DO BONILHA!

O velho Kryptus parece meio cansado... já faz 8 anos q ele estreou um conto meu.

Para você ler online, ou baixar para ler no seu computador. Um estoque permanente de toda minha "extensa" obra literária!

PS: Parei com aquela porcaria de legenda, aquilo dava muito trabalho...

CONTOS:

"APRENDIZ DE FEITICEIRO"- este é dos velhos. Magos infestam um futuro apocalíptico(q, aliás, já passou;-)).

"O ARNALDO É LOUCO" - crônica escolar, sobre meu antigo professor de matemática.

"OS DIAS NEGROS DE KRYNN" - ainda mais velho, meu primeiríssimo. D&D puro, se vc num gosta, fique longe.

"DEZ REALIDADES" - coletânea de dez pequenos contos ligeiramente interligados.

"DESCRENÇA EM 6° CÍRCULO" - menos D&D q Dias Negros, mas muito maior. Velhos companheiros de aventura reencontram-se, agora como inimigos.

"É, MAURÍCIO..." - o trágico fim de Maurício Razi?

"A TERRA DA DEUSA FURIOSA" - uma expedição rumo ao desconhecido e um final inusitado.

"NÉVOA PRATEADA" - a sequência de "Aprendiz de Feiticeiro".

"MOLHADO" - um assento de Ônibus molhado e muita realidade consensual.

"MATRIZ" - pequena sequência de estórias passando-se na Casa da Matriz, aki no Rio.(antes q vc pergunte, com personagens fictícios)

"RANDÔMICOS" - a origem de Gericault, andarilho dos olhos prateados, e um breve debate sobre Destino, Acaso e Morte.

"KÉRAMUS E O POTE DE VENTO" - a história do mago mais poderoso de Heshna, e de como ele consegiu encher um pote com vento.

"JUSTIÇA" - conto policial com Shade, um detetive levemente amargo.

"MUUNAITE III, DE PARTI" - 2 amigas batem um papinho na festa mais boyplay da cidade.

"TAO, O NOME" - conheça TAO, o maior jogador de videogame de todos os tempos.

"O SONHO DE TAKASHI" - o primeiro conto lodista! Pode Takashi lembrar-se de seu sonho e sua idéia ao mesmo tempo?

"PISANDRO" - um professor de História relembra sua juventude, seu amor perdido, e suas desavenças com Deus e o Destino.

"O EVANGELHO SEGUNDO K. C." - dois senhores discutem música e religião num futuro próximo. Bom, não tanto.

"NADA DEMAIS" - Nada demais mesmo. Juro.

"TAO - POR QUE LUTAR" - Tao, o rei dos games, revela algo do seu passado, e de como começou a jogar sério.

"BRINQUEDOS" - Os brinquedos de Joãozinho eram especiais: podiam falar e até mesmo brincar sozinhos! Ou será que eles estavam trabalhando?