terça-feira, fevereiro 10, 2004
Um conto bobo, utilizando o Tao e o Jet como protagonistas (se você não sabe quem são, pode descobrir nos links para os dois contos do Tao aqui embaixo; mas na verdade dá pra entender sem isso). Sempre tive a idéia de usar o Tao pra uma variedade de assuntos, sem me restringir ao ambiente do videogame, com histórias de todos os tamanhos, ainda que pretendesse fixar alguns outros personagens do cenário antes - e alguns irão também notar a estes furos, mas bem, q se dane.Ah, e embora o próprio conto deixe isto bem claro, ele se passa bem depois de "O Nome" e "A Fonte de Tudo". Portanto Jet já está com uns 15, 16 anos de idade, e Tao com 25.
A TRANQUILIDADE VERDADEIRA - ... e no último campeonato, o Moe disse que já tava todo mundo lá me imitando também! Porra vê se pode, eu jogo uma vez e aquele monte de cabeludos fantasiados ficou tão bolado que acha que bater agachado com a Xianghua é a grande manha do jogo!
- Eles são ruins. Você melhorou.Tao e Jet desciam as escadas da estação de metrô, o primeiro com o boné levemente abaixado e úmido, o segundo, visivelmente com frio, oscilava entre manter as mãos nos bolsos do casaco e gesticular com elas. Estavam deixando a LAN House que usaram, ao longo do mês de férias em São Paulo, para checar seus mails, navegar e manter contato com quem interessasse.
- Muito divertido, mesmo com aquele joystick estranho do Cube. E aquele cara gordo que jogava com o Necrid. Você viu a cara de bundão dele?
Tao apenas acenou com a cabeça. Tinha sido uma boa viagem, e ele tinha certeza de que Jet concordaria, ainda que talvez de maneira excessivamente entusiasmada - aquele breve intervalo tinha confirmado sua brilhante e contínua evolução, e ele estava muito feliz para que Tao ousasse reprimir sua falta de humildade. Talvez se preocupasse com isto depois que descobrisse o que perturbava o garoto.
- Mas esses caras eram muito fraquinhos também. Reclamaram que eu era apelão porque mandava muito deflect!
- Seu deflect estava vulnerável.
- Então! Eles é que eram previsíveis!Porque algo perturbava Jet, estava na cara. Era muito fácil perceber, depois de 4 anos de convivência.
- Os caras só tinham dois, três ataques, não fintavam, não. Vou te dizer, a gente deu bobeira de ficar impressionado com aquela primeira convenção, por causa dos caras que o Wiz conhecia. Mas aquilo foi só uma puta duma sorte.
- Você é que ficou impressionado com o Bob. Especialmente porque ele quis te dar uma surra.
- É. É, fiquei.Jet se espreguiçou, olhou ao redor da estação.
- Qual linha a gente pega, mesmo?
- Por qual você veio, Jet?
- ... sei lá.Tao riu.
- Você faz moda só de lutar uma vez com a Xianghua, é o fodão dos campeonatos de convenção, mas tem medo dum adolescente musculoso cheio de espinhas e não sabe pegar a merda do Metrô! Eu mereço!
- Ei, eu fico desnorteado sem a praia pra ajudar.
- Seu merda.
- Qualé?! - riu - Ih a lá, é esse trem aí?
- Senta aí.
- É esse aí?!
- É a outra linha, retardado. Fica quieto, aí.Sentaram-se enquanto o trem parava, e assim que o fizeram, uma voz anunciou no alto-falante que, devido a problemas técnicos, os trens sofreriam um atraso.
- Ah, ótimo. Perdi a pizzaria aberta.
- Cê vai sobreviver.
- Vou sobreviver ao meu deflect ruim e ao adolescente espinhento também?
- Não, aí cê tá fodido.
- E se eu aprender a dar deflect no soco dele?
- Claro, aí você vai abir os olhos e descobrir que o mundo é um programa de computador!Jet riu, fez que ia levantar e sentou-se de novo.
- ô, Tao.
- Hm?
- Tu já brigou com alguém?
- Quê?
- Já brigou com alguém, cara?
- Eu já briguei até com a minha mãe, Jet. De que tipo de briga cê tá falando?
- De briga briga, cair na porrada com um. Você é faixa preta, não é? O Moe disse -
- O Moe diz coisa pra caralho.
- Mas cê brigou, não é?
- É, briguei, umas vezes aí.
- Como foi?
- Normal. Sempre a mesma coisa, sempre o mesmo tipo de gente. Ele te empurra, tira onda, quando resolve de ir pro tapa você reage mais do que ele esperava, ele recua, chega o pessoal e separa. Se vem mais de um você foge, com sorte teus amigos aparecem e aí os caras recuam de novo...
- Só?
- Variações disso. Por quê?
- Sei lá. Mas nunca passou disso?
- Bom, não, porra. Não sou de briga. E acredite quando digo que é assim no mundo inteiro. Esses caras que brigam contigo não querem realmente brigar, querem trocar uns tapas e tirar onda, ninguém se arrisca de verdade.
- Mas nunca aconteceu nada, ninguém nunca se machucou?
- Eu arrebentei o nariz dum cara uma vez, quase quebrei meu dedo junto, foi uma merda.
- Cê arrebentou o nariz dum cara?!
- Acabei de dizer isso, num é?
- Como?!
- Com minha telecinésia mental ultra-poderosa, claro. Com um soco, Jet! Porra! O que mais?
- Beleza, calma, saquei, beleza.
- Porra.
- Eu só fiquei bolado.
- Porra, porque cê quer saber disso, hein?
- Nada, ué.
- Nadaué o seu rabo. Te explica.
- É que. Bom. Como é que você... sabe? Faz isso. Quer dizer, fez. Como é que você briga? Na hora, mesmo, quando chega a hora, você.
- Fala direito, porra.
- Quer dizer, como você chega uma hora e soca o nariz do cara? Você podia ter ficado parado feito um paspalho e acabar não fazendo nada.
- Podia.
- Você já fez isso? Ficou parado, não soube o que fazer? Você pensa, pensa, pensa, que se um dia aquilo acontece você, caramba não tem erro. Você vai socar o nariz do cara! Você planeja a mão, o lado que vai pegar, até com que osso que vai ser, mentaliza vários lugares onde pode acontecer. Você morre de raiva do cara, tá louco pra enfiar a porrada nele, dar um soco no nariz é tudo que você quer.
- Mas chega na hora não acontece.
- É. Ou, sei lá. Ele não puxa briga contigo. Ou ele parece que tá puxando mas você. Porra, não tem como ter certeza.
- Sei. Já aconteceu sim.
- Sério?
- É, eu achei que ele tava me provocando, ficou piscando o olho pra mim, aí qdo ele chegou eu primeiro hesitei, mas depois descobri que na verdade estávamos apaixonados. Foi aí que percebi que era gay.
...
- Você é GAY?!
- "hã, você é gay?" Hã, você é debil-mental?Tao acertou-lhe um tapa na testa.
- Ai porra!
- Eu mereço. Se digo que sou uma mulher tu era capaz de acreditar.
- Quê?Outro tapa.
- AI!
- Fica esperto.
- Que é isso, porra?!
- Que é isso digo eu. Do que é que você tá falando? "Ai, mas eu queria tanto brigar com ele, e ele nem me dava bola". Olha aqui se você é gay mesmo não posso te ajudar, mas se quer falar de mulher então fala de mulher, caralho.
- Mas eu não -
- Você não porra nenhuma. Deve ter sido exatamente o que você fez, aliás. Porra nenhuma. Diz que não?Jet engasga.
- Diz?
- Tá, tá. Digo. Saco.
- Como foi?
- Foi. Foi isso. Aconteceu, eu tinha esperado um tempão pela oportunidade, aconteceu da gente falar, a conversa engrenou, ela achou meu cabelo espetado bonitinho, eu bisbilhotei a bolsa dela, aí ela ria, eu ria, batia um silêncio.
- Não é uma gracinha?
- Ah, calaboca.
- E aí?
- Aí não tem aí, uma hora ela cansou e foi embora, se é que tava mesmo dando trela. Já te aconteceu isso? Você simplesmente trava, não sabe o que fazer. Sabe aquele lance que você falou, do Tao-te-King? De deixar as rodas percorrerem os sulcos, de nunca lutar, ação pela inação...
- Faz você pensar que, quando chegar a hora, as coisas vão se resolver, não é?
- É. É exatamente isso.
- Você quase fica esperando o gancho pra entrar com a fala que decorou, que alguma coisa em você ligue de repente e pá - você solta aquela frase, toma ela nos braços, sabe exatamente como dizer, como fazer.
- Cê já passou por isso.
- Milhares de vezes.
- E aí? Como cê faz?
- Bebo.
- Não, sério.
- "Quando nos abstemos da ação reina suprema a boa ordem universal".
- Tao-te-Ching? Livro 1, capítulo... 4, num é?
- Quase. É o 3.
- A boa ordem universal é ficar sozinho?
- Não, acho que não é por aí. O Wiz disse uma vez que nesse capítulo perderam muito do chinês original, sabe, que era mais o lance de não querer, não pensar em agir, de ficar tranquilo. Tem mais a ver com o título do capítulo, acho.
- Mas e aí? Como ficar tranquilo?
- Em teoria é a mesma coisa que numa luta, num videogame, você pratica o suficiente pra não pensar no que está fazendo.
- Então é isso? Atirar pra todo o lado?
- Talvez.
- Ah, Tao, pelamordedeus, tu me enrola esse tempo todo e manda uma dessa? qUal é, é pra eu fazer que nem meus colegas playboys agora?
- Quem tá te enrolando? Eu não tô.
- Bom, só sei que eu não sou assim, cara, comigo não funciona assim. Não é a minha.
- Nem a minha, mas bela merda. Você pode estar errado. Se me pedisse um conselho nisso, eu te diria pra prestar mais atenção no que teus amigos playboys fazem e aprender com o resultado.
- Bom, eu te pedi conselho. E não quero imitar esses merdas.
- Não é isso. Você tem que separar o. Ah, esquece, você não vai ouvir. Vai fazer que nem eu, ficar velho, burro e sozinho.
- Conselho de merda, hein?
- Cê pediu pra pessoa errada, cara. Se eu soubesse a resposta estaria conversando com uma namorada bonitinha e não com um pirralho feioso feito você. Ó o metrô.
- Que amargura, Tao.
- Amargo ia ser é meu tênis na tua cara, mané. E podes crer que eu faço isso na maior tranquilidade.
- Olha, a moça do alto-falante tá agradecendo pela minha paciência. De nada!
- Anda, cretino!
- Empurra não!
- VAI!Fecham as portas.
posted by Heitor 2:06 AM
Atualizado quando eu quero e foda-se!
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Bem-vindos! O blog mudou de hospedeiro, mudou de cara, largando aquela coisa de template temático, mas continua a mesma parada tosca.
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Heitor Coelho, na casa dos vinte, atualmente no limbo entre bacharelado e advocacia, magalômano, ponto focal de convergência de interesses esdrúxulos, frequentemente confundido com Hector Bonilla, acredita em dialética, astrologia e robôs gigantes.
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PS: Parei com aquela porcaria de legenda, aquilo dava muito trabalho...
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"O ARNALDO É LOUCO" - crônica escolar, sobre meu antigo professor de matemática.
"OS DIAS NEGROS DE KRYNN" - ainda mais velho, meu primeiríssimo. D&D puro, se vc num gosta, fique longe.
"DEZ REALIDADES" - coletânea de dez pequenos contos ligeiramente interligados.
"DESCRENÇA EM 6° CÍRCULO" - menos D&D q Dias Negros, mas muito maior. Velhos companheiros de aventura reencontram-se, agora como inimigos.
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