segunda-feira, maio 17, 2004
BOM TRÓIA Não fui ver Tróia na estréia, mas diante da mordomia oferecida pelo pessoal, q comprou o ingresso, ficou no primeiro lugar da fila e ainda pagou o taxi, acabei visitando o Leblon de novo - e valeu o ingresso, valeu o ingresso. Bom Tróia. eu estava receoso e tinha baixado as expectativas por causa das críticas... li uma resenha de jornal (Globo) e duas da rede (uma do terra acho, outra americana), todas dizendo q o filme era morno. Sou a pessoa errada pra dizer isso, extremamente parcial pró-qquer coisa Ilíada, mas é um rótulo injusto, ah é um rótulo injusto.
Não vou me dar ao trabalho de comentar a resenha do Tom Leão ("talvez pela estória ser muito conhecida, o filme não esquente"... ninguém merece...). Resumindo pro pessoal q ainda não viu: eu disse que, se o filme se mantivesse fiel ao embate Aquiles x Heitor, em todos os níveis, inclusive no nível pós-luta, seria um bom filme. E é. Ele diverge do épico que lhe originou em uma penca de coisas - mas na maioria detalhes passáveis, enquanto a larga escala não se perde. Agora, vamos aos detalhes... e o pessoal q não assistiu pode ir parando de ler, pq eu vou estragar algumas coisas.
Eu fiz mal em duvidar de Pitt, ele já mostrou que sabe lidar com a Ira em Seven; seu Aquiles pode até não parecer muito grego, mas está bem trabalhado. Tenho certeza que ele também contou com bons profissionais para lhe darem uma base na maneira como o personagem luta, que está bem característica; talvez muito cheio de firula em alguns momentos, mas cá entre nós, Aquiles é mesmo o tipo firulento. Destaque para a corridinha que ele dá entre alguns golpes, as fintas com movimentos rápidos dos pés ("Aquiles Pelida, de pés rápidos") e o salto com a lança, espécie de "signature move". Excelentes também as indumentárias dele. E embora o roteiro tenha ajudado, ele recebendo a notícia da morte do Pátroclo foi duca, a fúria foi nítida.
Heitor está precisamente como eu esperava - o q talvez tenha sido um pouco frustrante, já que Aquiles supreendeu. Eric "Banana" fez o dever de casa até a hora da luta com Pátroclo, seguiu o Heitor do roteiro - mais do que um cara honrado, controlado e dedicado, um herói simples e prático, do tipo se vira como pode, servindo bem ao bordão "honre aos deuses, ame sua mulher e proteja sua pátria". E teve alguns momentos de brilho - o primeiro encontro com Aquiles, sua reação na luta de Páris e Menelau - mas o destaque mesmo vai para as cenas da morte de Pátroclo, a cena onde mostra os túneis para Andrômaca, e, claro, para a luta com Aquiles.
Agora a cena foda, foda, FODA, é a de Príamo pedindo o corpo do filho a Aquiles - que é, mesmo, a mais bela da Ilíada. "Eu suportei o que nenhum outro pai jamais suportou: beijei as mãos do assassino do meu filho." Caralho, dá-lhe Peter O'Toole! O que foi isso!? Essa cena sozinha já valeu pra ele o título de melhor em campo. Aliás palmas pro roteirista tbm, por ter "inventado" a cena em que Aquiles chora acima do corpo de Heitor, antes de devolvê-lo. Caramba, essa parte, que originalmente é o fim da Ilíada, ficou ducaralho mesmo, me deu arrepios.
Bem, isso é a parte realmente boa... o motivo pelo qual todas as discrepâncias passaram de lado, nem perto de estragar o geral. Muitas delas tiveram motivos compreensíveis, outras nem tanto, e algumas chegaram perto de estragar a coisa.
Começando pela quase ausência dos deuses. Na Ilíada, deuses não são conceitos ou coisas em quem acreditar: eles são forças poderosas que irão alterar o rumo da guerra, e se vc marcar bobeira, morre por isso. Uma águia agarrando uma cobra não é um sinal estúpido que só idiotas seguem - pelo contrário, os mais sábios seguem presságios e via de regra se dão bem por isso. O próprio Heitor, q no filme é uma espécie de cético, na Ilíada é diretamente favorecido por Apolo, Artémis e Afrodite, mais de uma vez; e quando digo diretamente quero dizer flechas guiadas, oponentes cegados e lâminas adversárias partidas antes q o atingissem, não é qquer favorzim de merda não. Isso teve importância quase crucial em explicar uma saraivada de coisas:
- O prejuízo q os gregos sofrem sem Aquiles. No filme, parece que os gregos sem Aquiles ficm sem rumo e q Agamenon é um tapado; mas acontece q Zeus é levado por Tétis a favorecer os troianos enquanto Aquiles não lutar - pq qdo Agamenon leva Briseide ele fica brabinho e vai chorar com mamãe... tsc tsc. Quer dizer, Aquiles na Ilíada é uma criatura a princípio ainda mais cretina: ele desejou q os gregos levassem um sacode. Isso era um lado do cara q valeria a pena mostrar, mas... passa.
- Heitor e Aquiles. No original, ambos sabiam de antemão seus destinos. Ah, e no caso do Aquiles era bem mais específico, do tipo "se vc matar o Heitor, vc dança". Daí o confronto entre eles levar tanto tempo pra acontecer, e qdo acontecer, ter tanto impacto: eram profecias divinas, eram infalíveis, inexcapáveis, etc. No filme eles substituem isso por um parágrafo da Tétis (q aparece 2 minutos de filme e não parece ser ninguém de muita importância) e um sonho do Heitor, q ele menciona antes da luta. Não é a mesma coisa... mas tbm passa.
- A fuga de Páris. Na Ilíada ele é salvo da morte por uma névoa, enviada por Afrodite, que o envia de volta ao palácio - uma fuga bem menos fuga, e bem menos humilhante do q se agarrar aos pés do irmão - o q nos leva a...Heitor mata Ajaz
e
Menelau! Embora eu entenda os motivos, e ambos sejam secundários, Sei que era preciso mostrar ao público q o Heitor é mesmo bom, mas a melhor maneira de fazer isso, sem nenhum prejuízo na história, é como o próprio Homero fez: com Heitor desafiando qualquer homem do exército grego que esteja a fim, e a princípio ninguém do outro lado se voluntariando. E depois, nove caras indo prum sorteio só pra evitar que o Menelau vá (e morra). E um dos voluntários pro sorteio é o Agamenon! Quer dizer, o cara não era assim tão imprestável. Aliás no fim das contas quem acaba indo é o Ajaz, e termina empatada - quer dizer, a luta acontece, mas não é essa festa pro lado do Heitor, não... enfim, passa, q o Ajaz não faria muita diferença mesmo. Já o Menelau - será q isso não teria mexido mais com os brios do irmão dele? E significou uma mudança brusca no final da estória - quer dizer, na Odisséia a Helena está de volta com ele e arrependida, e Páris ao q tudo indica morto! O amor deles não termina bem, não! Acho q essa parte podiam ter deixado quieta...Aliás, todo o approach ao Menelau e ao Agamenon foi meio estranho... ambos são mostrados de maneira menos caricata na Ilíada. Especialmente o Agamenon, q no filme parece um velho traste, uma criatura desprezível com quem o Aquiles tem razão em não andar. Nunca tive essa impressão; o Agamenon do livro tinha seus defeitos, mas era respeitado pelos outros reis - aliás, ele não era rei de todo mundo. Isso tbm fica mal contado: todo mundo queria ter casado com Helena, todos os reis da Grécia, Aquiles incluso. Pra q não houvesse guerra entre eles por isso, chegaram a um acordo, de q depois de decidir em sorteio quem levaria a moça pra casa, ninguém mais interferiria, e se alguém de fora se opusesse, enfrentaria todos eles. É isso, o Agamenon não tem essa autoridade toda; ele tem o maior exército, mas se os outros quisessem podiam ir pra casa a qualquer hora.
Qto ao cavalo de tróia, morte de Aquiles e essa coisa toda: passa, passa. Afinal, todo mundo quer ver o q acontece depois... ficou legalzim, uma boa morte, flecha no calcanhar (mas não só nele); aparece até o Enéas liderando a fuda e carregando o pai.
Agora, quase imperdoável:
1. O cerco a Tróia, de dez anos passou a duas semanas! eu sei q duas semanas é o tempo q durou a Ilíada mesmo, mas caramba. Eles podiam ter posto um "10 anos mais tarde" em algum corte de cenas aí, num custava nada, vá! Ficou parecendo muito fácil...
2. "Triste destino Zeus grande nos deu, para que no futuro nos celebrem os cantos excelsos dos vates". Não precisava de Helena ter dito a frase assim de maneira tão empapagaiada, mas essa é a frase da Ilíada, porra, não dá pra faltar.
posted by Heitor 7:48 PM
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